Não conte para a mamãe

"Eu sentia segurança no amor de minha mãe. Ela deveria ter mandado ele parar. Não mandou."


Autora: Toni Maguire
 Editora: Bertrand Brasil

   Toni Maguire é uma mulher de sucesso que enfrenta um período difícil na vida de todo ser humano: a perda da mãe. Paciente terminal, sua mãe se encontra numa casa de repouso enfrentando dores e seus últimos dias de vida. Cumprindo seu papel de filha, Toni atende ao pedido da mãe e se hospeda na casa para acompanhá-la.

   Mas essa viagem se torna muito mais dolorosa, à medida que a autora e personagem principal do livro revive memórias de uma infância negligenciada e extremamente abusiva. Sofrendo abuso psicológico, físico e sexual do pai, Toni cresceu sem o apoio e proteção da mãe e dos familiares, além de vários outros adultos à sua volta que a culpabilizaram e a mantiveram numa situação abusiva.

   Esperando algum tipo de reconhecimento ou pedido de perdão da mãe, ela enfrenta memórias reprimidas e nos conta sua história, onde sofre abuso desde os seis anos de idade, isolamento de amigos e família  e inúmeras situações que deixam cicatrizes emocionais e físicas para o resto de sua vida.

   O tema do livro já é pesado por si só, mas enfrentar a realidade de que é uma história real, vivida pela própria autora, é brutal. A coragem de Toni, que não é seu nome de batismo, mas um nome escolhido para se reinventar e deixar a dor para trás, ao reviver e escrever sua história é imensa e essencial, uma vez que infelizmente o abuso e negligencia de crianças ainda é alto e muitas vezes ignorado pela sociedade.

   A minha geração, de 1990, veio de um ciclo de "se não apanha, não aprende", "criança não interrompe adulto", "criança educada não pergunta nem fala muito" e inúmeras outras frases que são danosas e transmitidas de gerações em gerações. Felizmente tem se aberto mais o debate para proteção à criança e mudança de padrões, mas esse comportamento ainda é muito reproduzido.

    É essencial recordar que crianças são seres humanos que estão se formando e recebendo suas primeiras impressões e aprendendo a lidar com o mundo durante a infância. O modo como são tratadas pelos pais e pela sociedade nesse período molda sua forma de ver o mundo, muitas vezes de forma irreversível. 

    A leitura desse livro foi muito difícil para mim, por vários motivos. Comprei-o há alguns anos e sempre esteve à minha vista na estante, mas nunca conseguia pegá-lo para ler. Como esperava, foi uma leitura difícil e dolorosa, mas acho que precisamos desse choque de realidade, pois mesmo que a situação não seja tão extrema quanto a de Toni, precisamos refletir sobre como nossas ações afetam ao próximo, e o que fazer para que não tenhamos mais Tonis sofrendo pelo mundo.

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