O Segredo de Emma Corrigan


Autora: Sophie Kinsella
Editora: Record

   Emma é assistente em uma empresa de marketing, e após uma viagem frustada de trabalho e vários golpes de azar, ela retorna para casa de avião, algo que a aterroriza. No meio de uma série de turbulências, Emma acha que vai morrer e abre sua vida para o homem que viaja na poltrona ao lado.

    Ela carrega pequenos segredos, coisas que não conta nem para a melhor amiga. Coisas sobre o trabalho, sobre o namorado perfeito (ou nem tanto assim), sobre sua família, seu corpo e sua vida. E ela conta tudo isso para o estranho que acha que nunca mais verá. Até que no dia seguinte, já estabilizada da viagem traumática, o fundador de sua empresa faz uma visita ao trabalho, e ela descobre que seus segredos estão todos com ele.

    Eu simplesmente amo esse tipo de história desencontrada. Emma é uma moça jovem, que está perdida na vida. Ela não encontrou seu rumo profissional, tem questões para resolver em família, e não se sente tão certa assim de seu relacionamento. Ou seja, uma personagem com quem muitas de nós podemos nos identificar, principalmente nesses primeiros anos saídos do colégio.

    Gostei realmente de alguns dos personagens, Lissy, sua melhor amiga, e Jemina, a menina com quem dividem o apartamento, são total opostos e trazem várias coisas engraçadas (e muitas absurdas) para a história. Além disso, engraçado e absurdo é grande parte desse livro, consegui rir bastante durante a leitura. 

    É muito interessante a forma como a autora trabalha os pequenos segredos que guardamos no dia-a-dia, alguns para não magoar quem amamos, outros porque temos vergonha de algo sobre nós, outros porque ninguém tem nada a ver com eles. Gostei da forma como o livro trabalha sobre as ramificações de quando segredos são expostos a alguém e como pequenas coisas podem mudar nossas vidas.

   Eu senti que a personagem principal evolui um pouco durante a história, mas gostaria que o arco final fosse um pouco mais desenvolvido. Senti a conclusão um pouco acelerada e destoante do restante do andamento do livro. Algumas partes, a meu ver, poderiam ser cortadas para que o final se desenvolvesse um pouco mais. Gosto muito da autora e pretendo ler mais livros dela.

   Assisti à adaptação cinematográfica e confesso que fiquei um pouco decepcionada. Não gostei da mudança no final e nem de várias atitudes de alguns personagens, além de achar que várias partes importantes foram deixadas de lado. Deixo o trailer para vocês abaixo. Já leram esse livro, viram o filme? Não esqueçam de comentar ;)



Boa leitura!

Pequenos Incêndios Por Toda Parte

"As regras existiam por um motivo: se você as seguisse, teria sucesso; se não as seguisse, talvez acabasse ateando fogo ao mundo."
Autora: Celest Ng
Editora: Intrínseca

       Shaker Heights é a comunidade perfeita para se viver. As casas tem materiais, cores e gramados padronizados. As escolas são de alta qualidade, formando jovens inteligentes e bem educados. A comunidade preza pela ordem e se orgulha de ser progressista e ligada aos bons costumes. 

     A vida da Sra. Richardson gira em torno desses conceitos. Sua família já está há três gerações na mesma casa, e Elena se orgulha de uma vida centrada, organizada, digna de um comercial de margarina. Casada com o homem que conheceu na faculdade, um bem-sucedido advogado, os dois tem quatro filhos e uma condição financeira que os permite viver com muito conforto.

    Mia Warren, por outro lado, é uma artista independente, que aluga a casa da família Richardson e se muda com sua filha adolescente, Pearl. As duas famílias acabam se envolvendo de maneiras diversas, e o choque do estilo de vida e valores dos dois lares pode mudar a vida de todos. 
"Ela não se importava, percebeu a Sra. Richardson, com o que pensavam dela. De certa forma, isso a tornava perigosa."
    É extremamente interessante ver a construção dos personagens nesse livro, pois nenhum deles é unidimensional. Todos possuem diversas facetas e muitas vezes se contradizem durante a história. Comecei a leitura levemente interessada e até um pouco entendiada com as descrições de Shaker Heights e todas as suas maravilhas, mas os personagens me cativaram de uma maneira que não consegui soltar o livro até terminá-lo.
" - Sinto dizer que não tenho  um plano - falou, erguendo o estilete. - Mas na verdade ninguém tem, não importa o que diga."
    Mia e Elena são personagens extremamente opostos. Elena se orgulha da ordem e das regras, enquanto Mia vive o momento. É interessante notar como a autora se refere a elas na maior parte do livro. Elena é Sra. Richardson, mas Mia é somente Mia. Raramente vemos seu sobrenome ligado a ela. Apesar de Mia não ser uma Sra. X, pois não tem marido, gosto de pensar nisso como uma indicação do senso de individualidade dela, e não da falta de um título. 

    Um personagem que pouco aparece é o Sr. Richardson, mas alguns momentos, em que ele se pronuncia ou aparece na história, são bastante interessantes. Além do desenrolar entre essas duas famílias, temos também uma batalha de guarda com discussões raciais e sobre o que é maternidade, que me interessou bastante. Podemos defender vários personagens sobre diferentes aspectos, e o livro todo, para mim, é uma grande discussão sobre decisões, julgamentos e morais.
"Ali ela descobriu que tudo tinha nuance, um lado não revelado ou profundidade inexploradas. Tudo merecia ser analisado com mais atenção."
    Outra questão que o livro debate também é sobre caridade / boa ações e suas intenções e motivações. Em diversos momentos a riqueza é tratada como uma superioridade inviolável e inquestionável, a ponto de alguns personagens nem pensarem em questões práticas do futuro. A ajuda aos menos favorecidos é tratada como uma obrigação moral, mas que é validada pelo merecimento. Quantas vezes não ouvimos isso na sociedade atual?
"Afinal, eles não era os mais espertos, os mais sábios, os mais atenciosos e prevenidos, os mais ricos e mais esclarecidos? Não era dever deles instruir os outros? A elite não tinha a responsabilidade de partilhar seu bem-estar com os menos afortunados?"
    Terminei essa leitura com os nervos à flor da pele. A sensação de querer mudar as coisas, de repensar várias situações do dia-a-dia e sobre como a sociedade funciona é enorme. Amo livros que mexem com os sentimentos de forma tão profunda e que me fazem refletir. Recomendo como uma leitura reflexiva, não só um suspense para saber como a história termina. Acabei o devorando em poucas horas, mas esse livro vale uma leitura vagarosa e contemplativa também. 

    Quero ver a adaptação, mas espero que consigam reproduzir as sutilezas e situações interligadas que esse livro conseguiu trazer à vida de uma forma tão delicada. E vocês, já leram Pequenos Incêndios por Toda Parte? Não esqueçam de comentar.

Boa leitura!

Minha Sombria Vanessa


GATILHO: Abuso Sexual, Pedofilia, Relacionamento Abusivo
ATENÇÃO: Esse livro é contém conteúdo para um público adulto (maiores de 18 anos)

Autora: Kate Elizabeth Russel
Editora: Intrínseca

      Vanessa Wye aparece em diversas idades nesse livro. Dos 14 aos 30 e poucos anos, o livro passa de sua adolescência à sua vida adulta, mais especificamente, de 2000 à 2017. Aos 15 anos, Vanessa é uma estudante de colégio interno muito fechada, sem amigos e distante da família. Tem interesse particular por poesia e literatura, e é no professor dessa matéria, Jacob Strane, de 42 anos, que ela encontra alguém que se interessa por seus textos e indica livros, passando de uma relação de professor-aluna para alguém que ela considera seu primeiro amor.

    A Vanessa de 2017 já enfrenta alguns problemas pessoais quando algo acontece: uma ex-aluna de Strane o acusa de abuso sexual. Mergulhada nas memórias do passado e ainda mantendo contato com o professor, Vanessa reavalia sua adolescência e seus sentimentos quanto ao relacionamento e suas consequências em sua vida. 

"Parece estranho um homem de meia-idade reparar nas roupas de uma menina. Meu pai mal sabe a diferença entre um vestido e uma saia."

    Ler esse livro foi algo pesado para mim. De cara, a autora esclarece que não é baseado nem na sua própria história nem de ninguém que conheça, mas nem por isso deixa de ser perturbadora. O livro levanta vários questionamentos (que devem ser levantados, diga-se de passagem) e aborda diversas versões para a mesma questão. Como a reação de vítimas de abuso pode ser totalmente diferente, como a visão do que é um abuso pode ser diferente. 

    Vanessa conta para quem a confronta que a história que viveu foi complicada, que ela não é sobrevivente de abuso. Mas em vários momentos ela demonstra se sentir de outra maneira. Strane é a primeira pessoa que ela sente que a viu de verdade, que diz serem iguais. Um homem inteligente, sofisticado, culto. Ao mesmo tempo em que Vanessa se sente poderosa, especial, venerada, ela se sente desconfortável, manipulada, e se questiona do que lembra e do que sente.

"Fico sem ar ao pensar em como estou perto de um grave passo em falso. Uma única reação errada poderia arruinar tudo."

    É muito doloroso acompanhar o processo de aliciamento pelo que passa e os abusos são muito explícitos e detalhados. A sua vida de 17 anos depois ainda é muito afetada por tudo que a protagonista passou. Se você for sobrevivente, tenha cuidado a ler esse livro, pois pode trazer muitos gatilhos. Ao mesmo tempo, tive a impressão de ler algo que pode ajudar as pessoas a entenderem melhor essa questão de abuso e de como isso modifica e marca uma pessoa, além de ajudar a prevenir.

"Eu não digo, mas às vezes tenho a sensação de que é exatamente isso que ele está fazendo comigo: me desconstruindo, me montando outra vez como alguém novo."

    Diversos adultos tiveram o poder de parar esse abuso, de interferir no que estava acontecendo, e muitos viraram as costas, inventaram desculpas, priorizaram outras questões. Vanessa não tinha educação sexual, orientação familiar ou uma rede de suporte próxima. Ela não se sentia segura para confidenciar com ninguém, e se sentia envolvida em problemas toda vez que alguém se preocupava com a sua situação.

    Poderia escrever páginas e mais páginas sobre esse livro e como me afetou. Como esse tipo de coisa afeta a vida de muitas meninas reais, que sem apoio podem sofrer consequências por muitos anos. Se você passou por algo abusivo, procure ajuda. Se apoie em alguém de confiança, faça terapia, não desista de quem você é e de quem pode ser. 

    Deixo aberto a sessão de comentários e a caixa de mensagens do Facebook e do Instagram para quem quiser conversar sobre esse livro.  

"Porque se não for uma história de amor, então o que é?"

Um Coração Cheio de Estrelas


Autores: Alex Rovira e Francesc Miralles
Editora: Lua de Papel

    Michel e Erin moram em um orfanato e são melhores amigos, mas um dia Erin não acorda. Ninguém sabe o que houve, ela está em um sono profundo e nenhum médico consegue descobrir  o porque e nem como acordá-la.

    Desesperado, Michel tenta se manter próximo e encontrar uma solução, pois não pode perder Erin. Ele encontra uma senhora que o manda procurar nove tipos de amor e recortar estrelas das roupas das pessoas que o ensinarem sobre eles, para que ela possa tecer um grande coração.

    É um livro bem pequeno, com pouco mais de 100 páginas, então não dá para detalhar muito a narrativa sem dar spoilers, mas foi uma leitura leve, de acalmar o coração. Traz um tom de auto-ajuda, mas era o que eu precisava nesse momento tão complicado no mundo. 

   Michel é um menino doce e ainda traz a confiança e esperança da infância, e é com essa visão que ele procura pelos tipos de amor e aprende lições sobre o que e como amar. Gostei também que no final do livro há uma lista de citações relacionadas a cada tipo de amor.

    Recomendo para quem procura algo leve e rápido para ler, é um livro bem fofinho. 

Boa leitura!

Thirteen Chairs


Jack is a curious boy. Jack é um menino curioso.

Autor: Dave Shelton
Editora: David Fickling Books

     Na cidade de Jack há uma casa abandonada. Em um dos cômodos há uma leve luz acesa, e ele se debate entre duas opções: parte dele o manda ir embora, pois não se sabe o que pode haver lá dentro. Mas ele é um rapaz curioso, e sua curiosidade o impulsiona a descobrir o que está acontecendo. Nessa noite escura, Jack entra na casa.

    Dentro de uma sala, uma mesa com doze pessoas e um lugar vazio. Na frente de cada cadeira, uma vela acesa. Jack é convidado a entrar, e nesse momento ele conhece os participantes e descobre o que está acontecendo lá. Cada um tem sua vez, cada um conta uma história. 

    Thriteen Chairs é um livro que me chamou a atenção pela capa, sendo bem sincera. Eu sempre olhava a seção de livros estrangeiros na Saraiva (a do shopping que frequento fechou, infelizmente, além de estar tudo fechado agora) e a sinopse também me deixou curiosa. Uma amiga minha que estava comigo viu que eu estava interessada e comprou para mim <3

   O livro é composto por treze contos, e todos eles costurados por uma história central. A expectativa pelo que virá em cada história e depois dela, constrói uma atmosfera interessante, e como cada capítulo contém um conto, o leitor pode dividir a sua leitura nessas partes. Apesar de estar curiosa para saber como tudo ia terminar, eu acabei lendo devagar, uma vez que não tenho conseguido me concentrar muito. 

    Tenho apreciado mais os contos com o passar dos anos, na adolescência achava insuportável não ter mais desenvolvimento ou muitas vezes desfecho nessas curtas histórias. Gostei de todos que foram contados, uns mais que os outros, mas de forma geral achei que o livro valeu a pena e foi uma leitura que me motivou a continuar lendo até o final.

    Infelizmente não vi edição brasileira deste livro, mas vocês podem encontrá-lo em lojas virtuais. Alguém aqui já o leu? Deixem seus comentários abaixo :)

Boa leitura!

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